segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Entrevista com Danieli Haloten



Para a jornalista curitibana Danieli Haloten (33), integrante da equipe do “Profissão Repórter”, em 2006, e atriz da novela “Caras & Bocas”, em 2009, ter escrito a biografia “Uma Viagem no Escuro”, disponibilizada em formato digital, foi a “melhor parte” de seu intercâmbio mal sucedido no Canadá, em 2011.

Apesar do potencial turístico, o Brasil ainda não oferece uma estrutura adequada para receber estrangeiros com deficiência visual. Você tem sugestões de como melhorarmos nesse quesito?
O interessante seria que as empresas contratassem profissionais como eu para dar palestras a fim de orientar os funcionários, como também consultoria para fazer as devidas adaptações.

Uma das maiores barreiras dos turistas com deficiência visual são as atrações de museus nas quais não se é permitidas tocar. Exclui-nos totalmente. Deveria haver exceção para que os cegos pudessem encostar-se a tudo, pois nós temos sensibilidade e não vamos destruir as coisas.
Aqui em Curitiba teve a exposição de réplica de animais pré-históricos, em tamanho real. Eu fui ver toda animada, mas não pude conhecer os dinossauros, porque estavam cercados de uma proteção, o que me frustrou muito, pois adoro exposições históricas.
Um outro problema a ser ressaltado no Brasil é a preservação do patrimônio histórico em detrimento da segurança. Em Natal (RN), a ponte que liga o continente ao Forte dos Reis Magos não tem nenhuma proteção. Como o vento ali é muitíssimo forte, é muito perigoso alguém cair no mar. Por mais que seja um patrimônio histórico, a segurança dos visitantes não pode ser colocada em risco por nada.
Em sua opinião, falta espaço na mídia para a discussão sobre a acessibilidade?
Faltam profissionais qualificados para abordar o tema na mídia. Estou cansada de ver inverdades e bobagens em reportagens, devido ao desconhecimento sobre o assunto. Se contratassem jornalistas com deficiência, não só para falar desses temas, com certeza ajudariam a informar melhor as pessoas. Até porque, quando se tem um profissional com deficiência no local, o assunto acaba vindo à tona, pelas circunstâncias do dia-a-dia, o que é muito positivo.
Minha participação no programa “Profissão Repórter” e na novela “Caras & Bocas”, da Globo, provou isso. Até hoje, sinto o reflexo do meu trabalho nas ruas. Teria de haver mais oportunidades para os atores com deficiência trabalharem em novelas, para que se pudesse abordar o assunto com naturalidade, como é na nossa vida real.
Uma vez que o mercado não acordou para essa realidade, está perdendo um grande nicho. Entre os 190 milhões de brasileiros, somos 46 milhões com algum tipo de deficiência, fazemos parte do mercado consumidor e do público. Dessa forma, o mercado não está ignorando somente 25% do público alvo, levando-se em conta que boa parte dos outros 75% participam da vida de alguma pessoa com deficiência.
Com isso, perde-se em responsabilidade social, quanto à conscientização, e uma fatia do mercado consumidor é desperdiçada.



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