Aluna do projeto mostra para banhista o resultado do trabalho no Piscinão de Ramos Foto: Daniela Dacorso / O Globo
RIO — Com olhar curioso, câmeras penduradas no pescoço e mãos inquietas, um grupo de oito alunos do curso de fotografia para pessoas com Síndrome de Down do Observatório de Favelas iniciou na terça-feira sua primeira aula externa no Piscinão de Ramos. Enquanto alguns corriam para fotografar um cachorro que brincava na calçada, uns caminhavam em direção ao piscinão e outros pediam permissão para fotografar as banhistas. A oficina, realizada desde fevereiro, conta com dez alunos, divididos em duas turmas. Segundo os organizadores, o planejamento das aulas envolve um pouco de teoria, muita prática e meia hora de edição. Após aprender sobre enquadramento, autorretrato e posicionamento, o grupo seguiu esta semana para o piscinão com a missão de aplicar o que aprendeu na sala de aula.
Os idealizadores do curso, o coordenador do Observatório de Favelas, Jaílson Silva, e a coordenadora-geral do Movimento Down, Maria Antônia, explicam que a iniciativa visa qualificar a percepção de mundo das pessoas com Síndrome de Down através da fotografia. Segundo Maria Antônia, o resultado da experiência, patrocinada pelos Correios, foi tão satisfatório que uma nova turma para iniciantes será formada no final do mês.
— A fotografia é uma das formas que eles têm de se reconhecer e de mostrar as coisas de que gostam. Eles podem utilizar a câmera como instrumento de identidade, subjetividade e também como uma forma de dialogar com a sociedade — ressaltou Maria Antônia.
Sujeitos das imagens
Jaílson espera que, após a formatura, em novembro, os alunos se transformem em sujeitos das imagens. Ele adianta ainda que a turma poderá ter mais aulas no ano que vem para aprofundar os conceitos que já foram ensinados.
Segundo a psicóloga do Ateliê Espaço Terapêutico, Luisa Ferreira, a fotografia proporciona a construção de um novo olhar:
— Para eles, sempre há alguém mandando e dizendo o que pode ou não ser feito. Aqui eles podem escolher o que querem fotografar. Aqui, eles tomam as decisões. A turma possui características muito especiais, temos alunos de 12 a 49 anos. Entre eles, uma mãe e três filhos que estudam juntos. Estamos trabalhando muito o autorretrato para que eles possam ver e entender melhor suas particularidades.
Aluna do projeto, Joana de Nascimento, de 26 anos, sempre gostou de fotografar. No entanto, não tirava fotos de si mesma. De acordo com a mãe, Antonieta de Nascimento, a situação mudou após algumas aulas
— Hoje, minha filha não tem vergonha e tira fotos dela mesmo. No início, fiquei preocupada, pois o curso é muito distante da minha casa, no Méier. Mas ela queria muito e eu resolvi tentar. Valeu muito a pena. Minha filha é esforçada e eu invisto tudo que posso na educação dela. Nós, pais de pessoas com Síndrome de Down, não devemos ficar com medo. Devemos acreditar no potencial dos nossos filhos e dar a eles a chance de conhecer a vida como ela realmente é.
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